terça-feira, 24 de junho de 2014

Libertando-me




   Lembro-me bem quando suas mãos tocaram meu rosto, delicadamente, e, minutos depois, você consumia meus segredos, discretamente, protegendo-me de qualquer mal presente ali. O problema, querido, é que eu não conseguia sentir o mesmo - e aquilo realmente me envergonhava. 
   Não neguei e não me arrependo. Conheci teu mundo, compartilhamos nossos sonhos - que nós até, boa parte, realizamos juntos - e inventamos nossas próprias certezas. Te levei aos meus lugares preferidos, fizemos, no meio da bagunça das nossas vidas, os jantares de sexta à noite, sempre dançando e rindo. Eu realmente sinto falta disso.
   Agradeço o ombro compartilhado, os sorrisos arrancados, a brutalidade das suas palavras, quando eu merecia, e o doce som da sua voz para me acalmar. Mas você me deixou partir, meu bem. 
   Você sabia de tudo, continuou, mas desistiu logo depois.Tenho medos, que me envergonho, e precisa ser paciente comigo. Você sempre disse que é um defeito - o meu maior, por sinal -, porque eu não me arrisco. Mas eu sinto muito, é mais forte do que eu imaginava.
   Eu não queria ir, mas você disse que estava me libertando - mal sabia que quem estava sendo libertado era você.

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